Apresentação de Crave, de Sarah Kane, com encenação de Tales Frey na Biblioteca Municipal de São José do Rio Preto-SP, Brasil. Agosto de 2024
Como eu queria ter música,
mas tudo que tenho são palavras.
Sarah Kane (1971-1999) é considerada uma das criadoras mais importante da dramaturgia inglesa do final do século XX. Autora de obras tidas como provocadoras, estonteantes, perturbadoras, tais como Blasted e 4.48 Psychosis, Kane suicidou-se aos 28 anos, após diversas internações por depressão. A peça Crave, estreada em 13 de agosto de 1998 em Edimburgo, traz um caos de vozes sob uma narrativa estilhaçada, revelando um contexto hostil ao redor de quem discursa, tocando em muitos pontos caros à temática feminista, em especial, à violência sexual.
Levando em conta o discurso fragmentado e rítmico de “Crave”, a encenação opera como uma composição sonora devido ao caráter polifônico da dramaturgia e, embora o texto seja apresentado na íntegra, as vozes são distorcidas, acumuladas e gravadas para que, após cada apresentação, uma instalação sonora possa ser contemplada pela audiência, contando com a colaboração em tempo real do artista Dré Guines, que assume a trilha e engenharia de som. A ambientação cênica é tridimensional e adota uma lógica de fruição de uma grande escultura, portanto é possível que a audiência possa assistir ao espetáculo de diversos pontos de vista. Ainda, há a possibilidade de contemplar a peça através dos seus vestígios sonoros e materiais que permanecem expostos antes e após cada apresentação, onde a semiótica independe de um formato tradicional das artes cênicas, havendo fusão entre elementos da música noise, da instalação e de variadas manifestações das artes visuais.
A peça original comporta quatro “personagens” designados por letras (A, B, C e M), sendo quatro vozes que não surgem de um lugar reconhecível e que não revelam personalidades identificáveis, sendo as mesmas interpretadas por Cibele Sampaio, Edivaldo Vitorino, Luiz Thiago Mota e Maria Clara Aoki. Não há um enredo e o conjunto funciona como uma espécie de coral, conferindo a “Crave” uma tessitura de dissemelhantes emoções, com temas recorrentes à arte, notadamente o amor e a morte.
FICHA TÉCNICA
Texto: Sarah Kane | Direção: Tales Frey | Co-direção: Katiana Gonçales Rangel | Trilha e Engenharia de Som: Dré Guines | Figurino: Cibele Sampaio | Elenco: Cibele Sampaio, Edivaldo Vitorino, Luiz Thiago Mota e Maria Clara Aoki | Fotografia e Assessoria de Imprensa: Karen Bratfisch | Produção: Cia.Girasonhos | Produção Executiva: Cibele Sampaio | Assistência de Produção: Luiz Thiago Mota | Biblioteca Municipal de São José do Rio Preto | 13 de agosto de 2024 | Realização: Ministério da Cultura através da Lei Paulo Gustavo e Prefeitura Municipal de São José do Rio Preto.
Apresentação de Crave, de Sarah Kane, com encenação de Tales Frey na Biblioteca Municipal de São José do Rio Preto-SP, Brasil. Agosto de 2024
Clipping
O Noroeste, 12 de agosto de 2024
Cartaz do espetáculo Crave, de Sarah Kane, com encenação de Tales Frey na Biblioteca Municipal de São José do Rio Preto-SP, Brasil. Agosto de 2024