Exposição INDEXXX (2022), de Tales Frey. Galeria Ocupa, Porto, Portugal. Vídeo promocional para redes sociais
Na vitrine da Galeria Ocupa, há um dedo atrativo. Ele aponta ao mesmo tempo que gira, tem unha vermelha e testículos. Numa vertigem cadenciada, o objeto roda e nos faz perder em pensamentos: que rede corporal sinaliza Tales Frey na entrada da exposição INDEXXX?
É preciso estar porta adentro da galeria para habitar uma espécie de programa lúdico que fala diretamente ao corpo: nossa concretude, prova do “real”, é vista esquartejada, multiplicada, hibridizada, iluminada, vestida, esticada, entretida, televisionada. Fruímos uma realidade expandida, em que cada elemento desta brincadeira para adultos tensiona algo de familiar e estranho, sempre na medida de arriscar um bom encontro com o público. Rir, desejar, aludir, confundir também é uma forma de envolvimento com o novo e, talvez, Frey esteja firme na tarefa de compartilhar suas estratégias para se liberar daquela versão normativa, constrangida com a vida contemporânea.
INDEXXX é também uma estética ambiental herdeira de formas atuais e nostálgicas de certa cultura visual do show de variedades, do videoclip, dos memes de internet, dos letreiros luminosos de uma película qualquer em uma dark Xangai. Só que, ao invés do artista obrar pelo culto da celebridade, dos sonhos de consumo, da validação do “eu” nas redes sociais, ele experimenta meios para que esses artifícios da comunicação em escala planetária se dobrem a uma nova ordem, um “quase- cinema” de quem tem gosto pela dor e a delícia de ser um artista tropical.
O dedo aponta, a tríade de backlights mostram o beabá dos ideogramas-pirocas, televisores difundem uma ginástica-artística, fotos estampam paredes, um camarim é arranjado bem ali onde se penduravam as carnes do açougue já́ desativado e que agora é uma galeria arte. Há muitas descobertas nesta exposição.
Index também é o mesmo que lista, inclusive, no passado, dizia respeito a listagem de obras censuradas pela Igreja Católica. Nada mais acertado que esta coleção artística do corpo de Tales venha a público, confrontando no presente, o que restar de uma moral religiosa sobre a carne e a alma.
Grasiele Sousa a.k.a Cabelódroma
OBRAS
1) Tales Frey, Indicador, 2022. Objeto cinético de pvc com pintura acrílica e motor giratório, 50 x 30 x 10 cm;
2) Tales Frey, Dupla penetração, 2021. Caixas de madeira com luz e acrílico, 120 x 10 x 15 cm cada;
3) Tales Frey, Pé 45 sem Par – Manipulação I e II, 2021. Vídeo, 04’21”;
4) Tales Frey, O Corpo Nunca Existe em Si Mesmo, 2018. Fotografias, 20 x 20 cm cada;
5) Tales Frey, Xuxona, 2022. Escultura composta por papel machê, peruca e elásticos acolchoados, 180 x 40 cm.
Programa Paralelo
30 de abril de 2022, às 15h
Visita guiada com Tales Frey.
FICHA TÉCNICA
Tales Frey: INDEXXX | Galeria Ocupa, Porto, Portugal | Texto crítico: Grasiele Sousa | Design gráfico: ¼ Studio | Gestão da galeria: Alexandre Teixeira | Agradecimentos: Hilda de Paulo, Leika Morishita e Tânia Dinis | Apoios: Escola Superior de Educação Politécnico do Porto e Criatório | 16 de abril a 07 de maio de 2022