Thomas Szott, Bem Me Quer, 2022. Grafite, autocolante de vinil e tinta acrílica sobre papel, 55 x 65 cm
Através de desenhos, objetos, esculturas e narrativas textuais, Thomas Szott arrisca-se ao revelar o teor autobiográfico da sua poética visual expandida para fora das páginas de seu diário. Por meio de linguagens dissemelhantes, há um assunto central que está pautado nas abordagens do corpo, das suas identidades e subjetivações, onde os corpos representados e reconhecidos como masculinos não expõem o vigor de uma masculinidade entendida como hegemônica, porque expressam as suas delicadezas quando revelam justamente as angústias geradas pelos constructos sociais que moldam os nossos desejos, os nossos sonhos tão atravessados por uma estruturação romântica, portanto irreal.
Thomas Szott expõe distintas versões de si ao apresentar ora autobiografias confessionais, ora representações alegóricas de seus possíveis desejos íntimos que podem ser compreendidos como fidedignos ou totalmente idealizados, onde “o outro” (como nos sonhos) não é ninguém senão a própria pessoa que a imagina em suas construções oníricas.
As semânticas da conjuntura de criações do artista averiguam e, ao mesmo tempo, renegam as construções simbólicas tão flagrantes numa cultura cisheterocentrada e masculinista, porque ao fragilizar as masculinidades em suas composições simbólicas não as associando unicamente à ideia de virilidade e robustez absoluta, Thomas faz uma verificação crítica daquilo que sempre legitimou uma posição dominante dos sujeitos que se reconhecem como identidades masculinas na nossa sociedade, uma vez que o artista sublinha em suas criações o quanto é utópica a completude de uma identidade hegemônica que atenda todas as rígidas exigências do cisheteropatriarcado, enfatizando que ninguém no mundo a cumpre em sua totalidade.
Poderíamos deduzir que não se tratando de representações de identidades masculinas heterossexuais, seria inequívoco que tal consciência fosse desde o princípio evidente, mas há quem caia nas emboscadas da ultrapassada cishomonorma e, felizmente, Thomaz Szott tem sensibilidade para produzir algo que não poderia caber nisso.
Tales Frey
Curador
OBRAS
1) Thomas Szott, Light Chaser, 2022. Grafite sobre papel, 30,9 x 21 cm;
2) Thomas Szott, A Última Estrela no Céu (A Última Chance de ser Feliz), 2022. Grafite sobre papel, 59,4 x 80 cm;
3) Thomas Szott, Where I come to Die, 2021. Grafite sobre papel, 42 x 42 cm;
4) Thomas Szott, Um Lugar Para Onde Fugir, 2021. Grafite sobre papel, 21 x 30 cm cada;
5) Thomas Szott, O Que É Meu Ninguém Me Tira, 2021. Mala, tecidos diversos, cerâmica, fio de aço e tinta óleo, dimensões variáveis;
6) Thomas Szott, Especial, 2021. Óleo, pastel óleo, grafite e lápis de cor sobre papel, 105 x 75 cm;
7) Thomas Szott, Fugindo Das Coisas Que Eu Não Falo, 2021. Pastel óleo sobre papel, 14,8 x 21 cm cada;
8) Thomas Szott, Flying Alone, 2021. Plástico, gesso e tinta acrílica, 42 x 27 x 58 cm;
9) Thomas Szott, Bem Me Quer, 2022. Grafite, autocolante de vinil e tinta acrílica sobre papel, 55 x 65 cm.
Detalhes de algumas obras mostradas na exposição Body of Art na Sput&Nik the Window. Setembro e outubro de 2022, Porto, Portugal
FICHA TÉCNICA
Thomas Szott: Body of Art
Curadoria: Tales Frey
De 17 de setembro a 09 de outubro de 2022
Sput&Nik the Window
Porto, Portugal