Vestir estratégias para despir normas (2022)

Embora Tales Frey possa apressadamente ser definido como performer, esse título, na verdade, não dá conta das tantas disciplinas que atravessam a pesquisa. A sua obra singular é conduzida primordialmente pelo desenho e o corpo como inspiração e suporte, acumulando experiências do universo cênico como a interpretação, a indumentária, dramaturgia, cenografia e direção teatral, dança, coreografia, e linguagens plásticas-visuais como escultura, objetos, fotografia e vídeo arte.

Vestir estratégias para despir normas é a individual mais abrangente de Tales Frey na cidade do Porto, onde reside desde 2008. São exibidas proposições plásticas surgidas do entrelaçamento de tantas referências e linguagens artísticas. As esculturas, vestes, desenhos, objetos, vídeo e fotografias desafiam de modo lúdico e sarcástico tabus construídos pela cultura da chamada “cisheteronormatividade compulsória”. A afirmação de identidade em um mundo hostil às vivências não-heteronormaivas é uma questão natural na dramaturgia visual do artista, embasada na crítica de arte, teorias de gênero, performatividade e outros.

A prática de Tales Frey é autobiográfica, pois como ele mesmo aponta, “a performance é um gênero em que inevitavelmente o self do artista é frequentemente exposto”. Em uma série de performances, por exemplo, ele converteu os ritos de passagem dos seus aniversários em ações, tornando-os rituais artísticos. O desejo de experimentalismo constante e profundo, somado a vasto repertório cultural contemporâneo, atingiram uma radicalidade estética na forma artística.

Pela vivência com artes da cena e do corpo, o elemento cênico e temporal são presentes. Fiel à ficção da arte-vida, o artista utiliza o loop como recurso linguístico, visual e dramatúrgico espelhando e repetindo imagens em suportes além do vídeo. O duplo, pensado ou não como doppelgänger, está presente em peças que são fragmentos de corpos, alguns esculpidos para serem vestidos pelos espectadores-usuários. De modo muito original Tales Frey cria uma poética visual-performática multidisciplinar ativista, criticamente comprometida, finalmente irônica e sensual. Para ele, “o corpo é pivô”, algo que suas proposições não nos deixam duvidar.

Daniela Labra

Curadora

OBRAS

1) Il Faut Souffrir pour Être Belle, 2018. Fotografia, 70 x 50 cm;

2) Sissyparity, 2020. Políptico fotográfico, 8 elementos de 80 x 63,5 cm cada;

3) Cento e Trinta e Duas Figuras Corpóreas Como Mediações Sígnicas, 2020. Videoarte, 2’48”;

4) Transbordar, 2022. Nanquim sobre papel, 33 x 22 cm;

5) Ordem Araneae, 2022. Políptico fotográfico, 4 elementos de 40 x 40 cm cada;

6) Suruba I e Suruba II, 2022. Nanquim sobre papel, 45 x 25 cm cada;

7) Thighlighting, 2022. Objetos cinéticos em acrílico, diâmetros de 100 cm, 60 cm, 30 cm;

8) Tucking, 2022. Instalação, 200 cm x 120 x 50 cm;

9) Fio Condutor, 2020. Vídeo, 4’48”.

Ver folha de sala em: LINK

Clipping

Artecapital Magazine de Arte Contemporânea, 15 de dezembro de 2022

Vídeorregistro da abertura da exposição individual Vestir Estratégias para Despir Signos. Espaço Mira, Porto, Portugal, 2023